No Distrito Federal, as estradas se transformam em cenários de luto constante, como no caso de Amanda Martins Machado, nutricionista de 27 anos atropelada e morta enquanto pedalava na Estrada Parque Taguatinga em novembro de 2024. O motorista dirigia a mais de 100 km/h em uma via limitada a 60 km/h, e a bicicleta partida da vítima foi transformada em uma “ghost bike” branca, soldada no local como homenagem e alerta. Dados do Detran/DF revelam que, na última década, 2.829 pessoas morreram nas vias da capital, uma média de 280 por ano – equivalente a uma queda anual de um Boeing 737 sem sobreviventes. Em 2024, foram 229 óbitos, 151% mais que as 91 mortes por arma de fogo no mesmo período, segundo o Anuário de Segurança Pública do DF.
Especialistas apontam para a normalização dessas tragédias, que inibe a sensibilização coletiva e atrasa medidas preventivas. Hartmut Günther, professor de psicologia do trânsito na UnB, explica que o mecanismo de defesa social leva à indiferença, afetando a responsabilidade de condutores e políticas públicas. Um levantamento da Abramet destaca causas como velocidade excessiva, ingestão de álcool e falhas na infraestrutura, como iluminação deficiente e ausência de acostamentos. No DF, até maio de 2025, já foram registradas 107 mortes, 15 a mais que no mesmo período de 2024, reforçando que esses sinistros são evitáveis e resultam de negligência.
Memoriais como cruzes e ghost bikes, como os dedicados a vítimas na BR-020, servem como alertas informais e preservam a memória, segundo o historiador Renner Vilela. Exemplos incluem as homenagens a Antônio Marcos dos Santos e Anísio de Oliveira em Sobradinho, e a Armando Leite de Santana, atropelado em 2022. Familiares, como Fernando Braz, irmão de Amanda, lidam com o trauma e burocracias, enquanto processos judiciais, como o contra o motorista responsável pela morte dela, tramitam lentamente no TJDFT. Essas histórias evidenciam a necessidade de políticas mais rigorosas para segurança viária, contrastando com a atenção dada a outras formas de violência.