Brasília aos 65 anos: o planejamento modernista que clama por atualizações políticas

Brasília, idealizada pelo arquiteto Lúcio Costa em 1957, completa 65 anos enfrentando os mesmos desafios de trânsito e mobilidade urbana que afligem outras capitais brasileiras. Projetada para abrigar 500 mil habitantes, a cidade agora conta com mais de 2,9 milhões de moradores, segundo o IBGE, o que resultou em um aumento de 35,8% na frota de veículos, passando de 1,4 milhão para 2 milhões em uma década, conforme dados do Detran. Esse crescimento populacional e veicular saturou as vias, com engarrafamentos constantes nos horários de pico e durante obras permanentes, além de limitações no transporte público: o metrô atende menos de um terço da população, e os ônibus sofrem com irregularidades e falta de cobertura em diversas áreas.

Especialistas como Arthur Morais, pesquisador da Universidade Católica de Brasília, e o arquiteto urbanista Sergio Myssior, professor da Fundação Dom Cabral, defendem a urgente atualização do projeto urbanístico para adequá-lo às demandas atuais, invocando leis federais como o Estatuto da Cidade (2001) e a Política Nacional de Mobilidade Urbana (2012). Esses marcos legais priorizam o transporte coletivo como vetor para direitos sociais, como acesso à saúde, educação e trabalho, contrastando com políticas recentes que incentivam o uso de carros particulares por meio de isenções tributárias. Morais destaca que o modelo original, influenciado pela Carta de Atenas de 1933, priorizava automóveis e grandes deslocamentos, desconsiderando o crescimento demográfico e tecnológico, o que torna a mobilidade insustentável.

Moradores relatam o caos diário, como a professora Pollyana Denar Garcia Pereira, de Planaltina, que gasta três horas em deslocamentos para o trabalho na Asa Norte devido à superlotação e irregularidades nos ônibus. O servidor público Mateus Júnior critica a limitação do metrô, que conecta apenas cinco regiões administrativas ao centro, sem expansões para áreas como Asa Norte e Sobradinho. A Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF afirma monitorar demandas e planejar expansões, mas especialistas como Myssior sugerem adotar conceitos como a “cidade em 15 minutos” para promover sustentabilidade e reduzir desigualdades socioeconômicas herdadas do planejamento original, que segregava o Plano Piloto das regiões periféricas.

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