A uma semana da entrada em vigor das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros, o ex-secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, criticou a postura do governo brasileiro, qualificando-a como “suicida” por considerar medidas retaliatórias em vez de priorizar negociações. Em entrevista ao Podcast do Correio, Maciel enfatizou que a única forma de lidar com o impasse é através da diplomacia comercial, com “paciência, profissionalismo, pragmatismo e emoção zero”, colocando o interesse nacional acima de disputas ideológicas. Ele esclareceu que as tarifas, na verdade impostos de importação de até 50% sobre itens como aço e alumínio, incidem diretamente sobre os consumidores americanos, mas repercutem no comércio externo brasileiro, afetando a competitividade dos produtos nacionais.
Maciel destacou que os acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC) se tornaram “letra morta” e não servem mais como base para contestações, já que instâncias de julgamento estão inoperantes. Segundo ele, o Brasil errou ao obstruir canais diplomáticos com os EUA desde o início da administração Trump, motivado por diferenças ideológicas, enquanto outros 40 países negociam acordos bilaterais com sucesso. O especialista alertou que ainda há tempo para negociações, mas o atraso reduziu o poder de barganha do Brasil, e o que está em jogo vai além de setores específicos, abrangendo a posição do país no comércio mundial.
Sobre possíveis retaliações, Maciel as considerou a pior opção, exemplificando que impor impostos sobre produtos americanos afetaria os consumidores brasileiros e poderia inviabilizar exportações para outros mercados, como a Ásia. Ele elogiou iniciativas como as do vice-presidente Geraldo Alckmin, mas criticou a falta de diálogos de alto nível, como entre ministros das Relações Exteriores ou presidentes. Para Maciel, a negociação deve ser silenciosa e estratégica, sem anúncios públicos que enfraqueçam a posição brasileira, em um cenário agravado por fake news e pressões nas redes sociais.