Venezuela surpreende com tarifas de 77% sobre importações brasileiras e tensiona relações com o Mercosul

Em um anúncio inesperado nesta sexta-feira (25), a Venezuela impôs tarifas aduaneiras de 77% sobre diversos produtos brasileiros, com impacto principal no óleo e grão de soja, além de margarina, farinha, cacau, cana-de-açúcar e itens lácteos. A medida afeta exportadores que utilizam Roraima como rota, violando acordos prévios que isentavam esses bens de alíquotas, conforme certificados de origem. A Federação das Indústrias do Estado de Roraima (Fier) informou que a sobretaxa também atinge Argentina, Paraguai e Uruguai, outros membros do Mercosul, bloco do qual a Venezuela está suspensa desde 2017 por descumprimento de normas democráticas.

O comentarista Miguel Daoud destacou que, apesar da suspensão, a Venezuela ainda se beneficiava do Acordo de Complementação Econômica (ACE-69), mas agora desvirtua seus termos. Em 2024, o Brasil registrou superávit de quase US$ 778 milhões com o vizinho, equivalente a R$ 4,3 bilhões. Fábio Martinez, assessor econômico da Fier, alertou em entrevista à CBN que a cobrança extra, somada aos 17% já existentes, pode inviabilizar investimentos na região, especialmente para a soja, o principal item exportado, e afetar projetos industriais voltados ao mercado venezuelano.

A dívida da Venezuela com o Brasil supera R$ 9 bilhões, oriunda de financiamentos via BNDES e outros mecanismos. Daoud criticou a medida como hostil, considerando o apoio político contínuo do Brasil ao regime de Nicolás Maduro, inclusive por meio do presidente Lula em fóruns internacionais. Ele vê a tarifa como tentativa de proteger o mercado interno venezuelano, marcado por hiperinflação e desabastecimento. O Ministério das Relações Exteriores brasileiro acompanha o caso em coordenação com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, mas aguarda confirmação oficial de Caracas sobre as tarifas.

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